sexta-feira, 8 de abril de 2011

Diário de escola



Nas próximas linhas passo a relatar o ocorrido na escola em que trabalho no turno da tarde.
Ao realizar a ronda vespertina pela escola (veja que não se trata de um presídio), identifiquei um tumulto na porta do banheiro feminino. Quando fui me aproximando, a pirralhada, principalmente da 5ª série, começou a sair correndo de dentro do recinto bradando: “estão transando no banheiro!”

Adentrei no banheiro e solicitei ao restante d@s menin@s que saíssem, e fui verificar o que estava ocorrendo. Haviam duas portas fechadas e por baixo da porta pude identificar dois pares de sapatos descalços, um em cada porta. Imagine o que se passou pela minha cabeça.

O que estará de fato acontecendo? Seriam então dois casais, um em cada banheiro, mas porque tinha um par de sapatos em cada banheiro? Então, para satisfazer a minha curiosidade (imagine a d@s menin@s) empurrei com força a porta de um dos banheiros. Vi uma moça se vestindo, e ao ficar surpresa em ver-me disse: professora não é o que a senhora está pensando, nós estamos apenas trocando de calças, pois vestimos o mesmo número, só que a minha calça é 38 e a dele é 36, mas vou logo lhe dizendo eu não gosto de homem eu gosto mesmo é de mulher. Em seguida empurrei a outra porta, neste recinto o menino também estava se vestindo e foi logo me dizendo: professora eu sou gay e ela está falando a verdade, estamos apenas trocando de calças.

E continuou... a senhora vai nos levar para a diretoria? Neste instante adentra outro rapazola no banheiro que me diz: professora eu ouvi o que eles disseram e lhe asseguro, eu os conheço, eles são quem realmente estão dizendo, eles estão falando a verdade.

E o garoto que estava se vestindo, insistiu na pergunta, nós vamos para a diretoria? Por ser uma situação inusitada, de imediato não sabia o que lhes dizer, e para ganhar tempo para agir na urgência e decidir na incerteza (já que a nossa formação não nos prepara para a complexidade, a diversidade e as situações profissionais que teremos de enfrentar), solicitei seus nomes e turma. A garota pediu-me uma caneta e identificou seus nomes e turmas. Ganhei tempo e, em seguida, lhes respondi: a diretoria está aqui, no banheiro com vocês, não discrimino homossexuais e respeito a opção de vocês, entretanto, vocês não podem continuar causando este tipo de transtorno e tumulto na escola. Da próxima vez utilizem os banheiros que a escola dispõe para apenas dois sexos, no caso, você menina usa o feminino e você, garoto, o masculino (pensei o que iria registrar no livro de ocorrências, eles não cometeram nada de tão grave, pois se tivessem nas escolas banheiros que contemplassem as outras opções sexuais, esta situação, hoje inusitada, seria normal).

Será que agi corretamente nesta situação? Se fosse com você, o que teria feito? Na oportunidade informo que tenho que registrar o ocorrido no livro de ocorrência diário da escola. O que você escreveria?

Um comentário:

  1. Nossa que situação inusitada mesmo, Professora! Mas será que aqueles jovens falaram a verdade ou apenas omitiram informações com medo de sansões tanto da Escola quanto de seus pais? Acredito que em situações como esta o ideal é que houvessesm um diálogo com cada jovem, de forma particular, para sentir a realidade deles, e se eles, de fato, possuem outra opção sexual será que seus pais têm o conhecimento disto? Qual seria a reação deles? Sugiro um contato com os responsáveis dos alunos envolvidos para melhor gerir essa situação e assim registrar do Livro da escola.

    ResponderExcluir